Tentando ser cronista e falar de política





Queria me retratar, coloquei na minha descrição no Medium e no Instagram que sou cronista, mas devo corrigir-me pois não o sou. O cronista pega um fato do cotidiano e escreve sobre aquilo, faz uma reflexão e vai além da informação. Enquanto eu, escrevo sem passar nenhuma informação relevante, escrevo apenas por escrever, sendo que deveria ir além disso.

Poderia escrever uma crônica falando sobre os 700 mil quilos de picanha acompanhados de 80 mil cervejas, comprados com dinheiro público, para as forças armadas brasileiras em 2020, ano onde começamos a enfrentar mais um inimigo invisível, o Coronavírus. Digo mais um, pois já enfrentamos há décadas um inimigo que mata e, ao contrário daquele, escolhe as suas vítimas pela classe social, a fome. O governo que não consegue solução para erradicar a fome, não parece se incomodar com os gastos desnecessários com as forças armadas. Não estou dizendo que a alimentação dos militares é desnecessária, vale destacar para evitar distorções. Quero dizer que a quantidade e os itens comprados foram desnecessários, principalmente na situação caótica que nos encontramos.

Outrora, quando questionaram o porquê de comprar 15 milhões de reais em leite condensado, a justificativa dada pelo presidente Jair Bolsonaro, sem partido, foi que o alimento era “necessário” pelo seu alto teor energético. Uma justificativa nada plausível e mais difícil de engolir que o leite condensado  supostamente superfaturado, ou as 80 mil latas de cerveja, neste caso espero ainda saber o que motivou tantos gastos. 

Como disse, eu não sou cronista, não sei relacionar um fato do cotidiano e fazer uma reflexão, por isso este texto tem informações soltas, mas mesmo assim ainda me preocupo em saber por que é tão difícil dizimar a fome e tão fácil justificar a compra exorbitante de leite condensado. Enquanto isso, ficamos sabendo no último dia 14 que o auxílio emergencial será pago em quatro parcelas. Segundo o ministro da economia, Paulo Guedes, o valor inicial será de 250 reais e posteriormente será reajustado para 200 reais. Uma família que mora de aluguel com dois filhos e pais desempregados conseguirá sobreviver com esse valor?

E tudo isso está acontecendo diante dos nossos olhos que estão ocupados demais compartilhando mais um meme do BBB ou assistindo a outra partida dos campeonatos de futebol. O problema não é assistir a entretenimentos, ou a emissora transmitir estas programações. 

Às vezes precisamos de distrações para suportar a realidade, concordo, (os interesses por trás destes conteúdos são debates para outros textos) mas o contratempo é ficar desatento ao que está acontecendo em volta. Quero dizer que se todos nós prestarmos mais atenção ao cenário nacional e manifestarmos isso, poderemos, algum dia, ver os resultados da mudança. Longe de mim querer ser otimista, mas que a verdade seja dita. Não é cobrar dos operários que mudem, a cobrança tem que ser direcionada a quem está por trás da operação. Das mãos de obra que movimentam todas as engrenagens, pedimos apenas que acordem e falem.

Ainda poderia citar mais: uísque 12 anos e lombo de bacalhau comprados com dinheiro público, mas poderia parecer que estou perseguindo o governo, quando na verdade, apenas vejo por alto os noticiários.

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